As tardes eram
sempre mais longas na infância. Juntamente com irmãos e primos, passávamos um
tempão deitados na varanda ou no gramado olhando para o céu azul. Ali nos
divertíamos imaginando formas nos desenhos que as nuvens lá no alto desenhavam.
Quantas vezes olhávamos para as árvores lá no alto dos morros e observávamos
seus contornos; podíamos jurar ter visto elefantes, girafas... e dinossauros.
Nossas tardes eram iluminadas! Há lembranças que a gente não esquece nunca
mais! Como é bom aprender!
Certa vez, ao
anoitecer, nosso pai nos ensinou, apontando para o morro: “estão vendo aquela
luz acesa lá na escuridão da mata? Lá mora um amigo”. Anos mais tarde eu pude
compreender o que o pai estava nos ensinando: é que, se porventura, algum de
nós se perdesse de casa, deveria buscar socorro caminhando na direção da
primeira lâmpada; pois lá, talvez, alguém poderia nos socorrer.
O tempo foi
passando e, ainda hoje, deliberadamente, muitas vezes escolhemos andar longe da
luz. E nos aventuramos em tantos caminhos e descaminhos que, quase sempre, nos
levam ao desânimo, à descrença e a ficarmos com receio da luz.
Como é bom
quando, em meio ao desalento, alguém nos aponta um caminho certo, nos estende a
mão, se interessa por nós e nos ajuda a voltarmos para a luz. Pois, a luz elimina a escuridão, desfaz o
medo, torna tudo visível e nos permite ver o caminho. Jesus ilumina
nossos corações e nos revela o caminho para o Pai.
Ele mesmo se
apresentou como luz: “Eu sou a luz do mundo;
aquele que me segue, não andará nas trevas, mas terá a luz da vida” (João
8,12). E São Paulo ensinou: “Porque
todos vós sois filhos da luz e filhos do dia; nós não somos
da noite nem das trevas” (1Tes 5,5). A missão dos seguidores de Cristo é
ser “sal da terra e luz do mundo” (cf Mt 5,13-14).
Neste Advento,
nossas cidades e casas e igrejas estão enfeitadas com muitas pequenas lâmpadas.
Como são lindas nossas árvores de Natal! Mas, em meio a tanto colorido e
ostentação, corre-se o risco de não perceber que a verdadeira luz emana
d’Aquele Menino-Deus que nasceu numa noite escura, lá em Belém. Ofuscados e distraídos com os enfeites do
Natal, não contemplamos Jesus-Deus, que, no presépio pobre e despojado, vem
trazer o alento para a humanidade.
Os séculos vão
passando, o ser humano continua prodigioso em suas invenções e descobertas, mas
ainda caminha na escuridão. Como marionete nas mãos das ideologias e filosofias
e teologias e teorias mil, o homem hodierno vai caminhando em busca de sentido
para sua existência.
Talvez devesse
escutar a Deus que, no seu coração, está lhe convidando a buscar a Luz. Pois,
“a luz veio ao mundo, mas o mundo preferiu as trevas à Luz” (cf Jo 3,19).
É missão de todo
cristão ser portador desta Luz do Natal. E apontar para o Menino do presépio.
Somente o encontro com Jesus pode iluminar um coração escurecido e obscurecido
pela descrença, pelo fechamento, pela indiferença...
Pelo batismo
fomos salvos, para indicarmos o caminho da Salvação; fomos iluminados para nos
tornarmos iluminadores e refletores da Luz do Senhor; fomos chamados pelo nome,
para que, através de nós, outros pudessem ouvir a voz d’Aquele que chama; fomos
feitos filhos e membros do Corpo Místico, para congregarmos os demais irmãos...
Enfim, é
necessário apontarmos para Belém... para o presépio... para o Menino Deus! Como
nos ensinava o nosso pai: “lá mora um amigo”, “lá se encontrará abrigo”, “lá a
vida estará protegida”, “lá naquela lâmpada acesa da montanha, na escuridão da
noite”!
Será que toda
casa é casa de acolhida, morada de amigos? O nosso coração é lugar de abrigo e
de aconchego? Qual luz emana o nosso coração? Uma parca luz, tímida, artificial
e mero enfeite?
Quando se é
criança, a fantasia é capaz de nos envolver por horas a fio. Quando a gente
cresce, é uma pena que se perca tanto daquela capacidade de sonhar, de
imaginar, de transcender! O mundo precisa da Luz!... necessita do Natal!... tem
fome de Jesus!
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